terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Conhece a lenda de Sisifo?



Sisifo é uma lenda sobre um herói grego que era muito inteligente, conta a lenda que ele enganou a morte duas vezes, tamanha era sua engenhosidade. Numa das vezes que enganou a morte ele a aprisionou e isso fez com que ele escapasse dela, mas também com que as pessoas que estavam à beira da morte fossem impedidas de morrer, até pessoas que estavam decapitadas ou feridas de morte nas guerras agonizavam sem encontrar fim para seu sofrimento. Este episódio causou grande ira aos deuses, afinal Ares, deus da guerra queria dar final ao sofrimento dos guerreiros feridos de morte, o mundo dos mortes governado por Hades era marcado pela ausência de mortos, estava empobrecendo e esvaziando-se, então Zeus movido pelo pedido de Hades, resgatou a morte junto com Ares.

Sisifo foi castigado e mandado para o mundo dos mortos, chegando lá ele pede para ser liberado para voltar a vida pois sua esposa não havia o enterrado, feito os ritos fúnebres, o que era uma grande ofensa, porém ele havia pedido para a esposa não o fazer para ter um motivo de voltar, sua alegação é de que iria castiga-la e providenciar o funeral e assim foi liberado com a condição de voltar assim que estivesse tudo resolvido e ele não cumpriu o acordo, continuou vivendo normalmente com sua esposa sem retornar. Quando a paciência de Zeus com Sísifo acabou, o deus enviou Hermes para conduzi-lo ao mundo inferior; com o objetivo de que ele finalmente recebesse sua condenação e foi a pior de todas:

Ele foi condenado a um suplício eterno que consistia em levar uma pedra morro acima, com o objetivo de fazê-la cair para o outro lado. Mas nunca conseguiu, porque a pedra sempre rolava para baixo, voltando ao ponto de partida, ficando ele, então, preso a essa tarefa eternamente.

A repetição de um trabalho exaustivo e sem sentido, todos os dias, eternamente era um castigo perverso, sem fim. Sisifo tinha pouco tempo para refletir sobre sua situação, este apenas se dava quando a pesada pedra despencava do cume da montanha até de volta a base e ele descia para recuperá-la e recomeçar a leva-la ao topo de novo, esta caminhada do cume a base da montanha poderia ser usada para refletir, traçar um plano para fazer diferente, ter consciência de sua vida e mudar sua relação com seu destino, rebelar se contra a falta de sentido de sua tarefa e a impossibilidade de realiza-la, mas ele estava preso ao imperativo, a ordem dos deuses de fazer e então apenas fazia visando conseguir e assim libertar-se.… sem nunca conseguir.

O castigo de Sisifo era permanecer no Hades pela eternidade através da repetição de sua tarefa inglória, da mesma forma que a repetição e atuação da repetição, faz pessoas permanecerem em relações e situações toxicas, abusivas, violentas, um verdadeiro inferno, sem conseguir sair.

A repetição inconsciente é um suplício da mesma forma que Sísifo experimentou, é reviver situações dolorosas, tediosas, exaustivas encenando uma vitória que sempre fracassa e traz frustração e o reviver da dor cada vez que acontece novamente. A ordem interna que nos dirige, é como a ordem dos Deuses, imperativa “Faça”, esta é compulsão: Compulsão a repetição. É irracional, fazer sempre igual, sabendo qual será o desfecho e não conseguir parar de repetir. O repetir de Sisifo pode ser entendido como um eterno retorno para rever o que está errado, porém, sem avanço e sem compreender, repetição e recaída, voltando ao ponto de partida.

E se Sisifo conseguisse parar para pensar sobre as ações erradas que realizou, se responsabilizasse pelo mal que causou e fizesse as pazes com seu passado?

No decorrer de sua vida, já se viu vivenciando o mesmo tipo de situação? Por exemplo, entrando e saindo de relações abusivas, engatando uma relação na outra, frustração no trabalho, etc. sempre sem saber o porquê? Cenários que não cessam de se repetir, que regularmente, retornam, e que lhe conduz por um caminho que não apresenta outra saída senão a frustração?

Para psicanalise a repetição é de ordem inconsciente, traumas, dores, sofrimentos são reeditados através da encenação devido a impossibilidade de expressar-se de outra forma, uma forma desesperada de elaborar a questão pendente que é sentida com sofrimento e desprazer, porém, traz algum tipo de gozo, o que chamamos de ganho secundário, que pode ser não encarar os fatos, as dores, traumas ou sofrimentos, por exemplo.

O primeiro passo para abandonar sua pedra é a responsabilidade sobre sua vida. Entender o passado, elaborar o passado, ressignificar o passado e ser responsável para que ele não continue dirigindo seus atos na vida, tomando o controle da situação.

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