Freud perdeu sua filha, Sophie, aos 26 anos e grávida de seu terceiro filho, na epidemia de gripe espanhola.
No mesmo ano, seu texto "Além do princípio de prazer" (1920), foi publicado. Embora tenha sido escrito antes dessa tragédia (ainda que tenha sido editado depois), foi a partir desse ano que a teoria psicanalítica se marcou em um "antes e um depois": a partir do conceito de pulsão de morte, publicado aí.
Nesse texto, Freud indicou que há um lugar em nós que nos seduz de modo especial: a repetição de um sofrimento. Na ânsia de nos livrarmos de experiências traumáticas, a gente acaba por se fixar nelas.
No filme "Relatos do mundo" (Netflix, 2020) temos um homem que, em um encontro contingente com uma menina, se dispõe a levá-la para casa. Sem perceber, torna-se ele mesmo a casa daquela que não tem casa, assim como transmite a ela a possibilidade de "fazer casa" através das histórias.
Na cena que mais marcou, ele, do alto de sua neurose, transmite sua boa intenção: "Siga essa linha sem olhar para trás".
A menina, com sua sabedoria indígena e infantil, nos ensina "Para seguir em frente você deve primeiro se lembrar".
Que a gente lembre das dificuldades e horrores que temos vivido nesses tempos de pandemia. Que possamos escrever e transmitir a história que vivemos!
Ana Suy
Nenhum comentário:
Postar um comentário