sexta-feira, 30 de abril de 2021

EU NOS OUTROS

Eu nos outros

Estava caminhando pela rua quando passei por uma mulher muito charmosa, e seu charme era consequência de diversas escolhas acertadas, a começar pelo cabelo.

Um corte chanel repicado, rebelde, volumoso, e uma franja comprida e displicente que dava ao look um ar de “acordei assim e saí pra rua”, e deve ter acontecido mesmo, ela acordou e saiu pra rua sem nem se olhar no espelho antes, tinha um cabelo que não dava trabalho e a deixava com uma aparência moderna e jovial, mesmo com seus 40 e tantos. Pensei: adoro cabelo curto. Nas outras.

Como ela usava uma camiseta regata, vi que tinha uma grande tatuagem no braço.
Era um desenho
estilizado, parecia uma padronagem de tecido, não era uma frase, um bicho ou qualquer coisa distinguível – apenas um desenho abstrato que para ela, e só para ela, fazia todo o sentido e a personalizava num grau único.

É provável que ela tivesse também tatoos mais delicadas atrás da nuca, no pulso ou no tornozelo, mas a do braço, imensa, era um ato de bravura.

Era uma mulher tão colocada, tão escandalosamente ela mesma, que também me senti tudo isso pelo simples fato de apreciar nela o que não tenho a audácia de fazer em mim. Adoro tatuagens. Nos outros.

E ela carregava nas mãos uma jaqueta de couro vermelha.

Eu nem precisava ver como ela ficaria vestida com a jaqueta, simplesmente todas as blogueiras de street style a perseguiriam com suas lentes se a vissem caminhando com aquela displicência de quem nasceu para desfilar com uma jaqueta de couro vermelha no meio da tarde de uma segunda-feira a caminho de um encontro com algum amante libanês (não parecia uma mulher que estava indo à missa). E lá se foi ela portando nas mãos aquela peça vermelha que eu achei incrível, eu que não tenho uma única peça vermelha no guarda-roupa, e indo ao encontro de um fantasioso amante libanês que tampouco faz parte do meu currículo.

O que me impede de tosar o cabelo, fazer uma tatuagem no braço e comprar uma jaqueta vermelha?

Nada. Simplesmente acontece de a gente gostar muito de certas coisas, mesmo não tendo impulso suficiente para adotá-las como nossas. É um exercício elevado de apreciação: saúdo quem acorda às 5h da manhã para correr e também quem atravessa a noite dançando – não faço uma coisa nem outra.

Admiro quem tira um ano sabático para meditar num ashram e também quem vai a Nova York de três em três meses.

Quem decide não ter filhos e quem tem e ainda adota alguns. Quem coleciona amantes e quem mantém um único e eterno casamento. Quisera eu poder contar com sete vidas para abraçar todos os jeitos de ser e de estar no mundo, mas tendo uma vidinha só, faço as escolhas que melhor me identificam, sem deixar de aplaudir as minhas renúncias.

A todas as outras mulheres que não sou – ou que não sou ainda – meu sorriso e uma piscadinha cúmplice.

Martha Medeiros

terça-feira, 6 de abril de 2021

Querida Transição

Querida transição,

Você desperta algumas inseguranças em mim, porque é sempre desafiador enfrentar o desconhecido.

Eu já havia me acostumado com minha antiga fase, e agora que estou mudando, sinto um desconforto em existir, como uma turbulência existencial. 

Sei que logo, logo estarei lidando bem com essa nova fase, e tenho a sensação de que vou me apaixonar por essa nova versão de mim, mas confesso que a transição tem sido difícil.

Me sinto como uma planta que é replantada num vaso maior, para que as raízes possam expandir e para que o tronco cresça cada vez mais forte, a sensação é diferente do que vinha sendo, mas quem sou eu para questionar os ciclos e mudanças naturais da vida?

Prefiro aceitar esses ciclos e buscar entendê-los, para que eu possa crescer de forma harmoniosa com o que a vida espera de mim. 

Minha transição flui como um rio, pois a maturidade me ensinou a não ficar tentando represar minhas nascentes, a não ficar tentando tapá-las com pedras. 

Sou e tenho me tornado.

Espero essa nova fase de minha vida como quem espera a noiva no altar. 
Eu a espero linda, mas sei que vai chegar ainda mais linda do que estou esperando. 


Não case

Se não gosta de ceder? Não case
Tem dificuldade de pedir perdão? Não case
Tem dificuldade de perdoar? Não case
Relevar as coisas pra você é difícil. Não case
Não quer abrir mão de algo que gosta por alguém. Não case. 
Odeia dar satisfação? Não case. 
Você ama ser Independente. Não case. 
Só faz o que gosta. Não case. 
Não costuma assumir erros? Não case.
O casamento nos desafia a refinar nosso caráter, se você deseja viver pra si mesmo, então não case. 
O matrimônio é lugar de viver um para o outro, mas muitos estão se casando buscando satisfação própria, não caia nesse engano, casar é muito bom, mas ninguém disse que é fácil!!! 

Werly Rodrigues

Vitória è amar

Vitória é deitar a cabeça no travesseiro e dormir em paz. É flagrar-se vivo, apesar de tanto. É ter um sonho bem bonito e perseverar por ele. É ter olhar que vê estrela quando fica de noite. 

Vitória é fazer o amor circular em vez de guardá-lo em potinhos. É ficar feliz porque alguém respira mais macio porque a gente existe. É viver bem. É ter ouvido bom para encontrar passarinhos. 

Vitória é não ter que agradar. É não ter que falar. É não ter que calar. É não ter que nada. É ser livre para ser. É ter olhos que leem os bilhetes de amor de Deus espalhados por todo lugar. 

Vitória é amar.

Você tem experiência?


Num processo de seleção na Volkswagen, os candidatos deveriam responder a seguinte pergunta: "Você tem experiência?" 
A redação abaixo foi desenvolvida por um dos candidatos. 
Ele foi aprovado e seu texto está fazendo sucesso, e ele, com certeza, será sempre lembrado por sua criatividade, sua poesia, e acima de tudo, por sua alma.

*Redação Vencedora:*

"Já fiz cosquinha na minha irmã só pra ela parar de chorar, já me queimei brincando com vela. 
Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto, já conversei com o espelho, Já quis ser astronauta, violinista, mágico, caçador e trapezista. 
Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora. 
Já passei trote por telefone. 
Já roubei beijo, já confundi sentimentos. Peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido. 
Já tentei esquecer algumas pessoas mas descobri que essas são as mais difíceis de se esquecer.
Já chorei sentado no chão do banheiro, já fugi de casa pra sempre e voltei no outro instante, já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só. 
Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado, já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar. 
Já senti medo do escuro, já tremi de nervoso, já quase morri de amor, mas renasci novamente, já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar.
Já chorei por ver amigos partindo e descobri que logo chegam novos, que a vida é mesmo um ir e vir sem razão. 
Foram tantas coisas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num baú chamado coração.
E agora um formulário me interroga, me encosta na parede e grita: 'Qual sua experiência?' Essa pergunta ecoa no meu cérebro: experiência. experiência... 
Será que ser "plantador de sorrisos" é uma boa experiência?
Não! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos! 
Agora gostaria de indagar uma pequena coisa para quem formulou esta pergunta:
Experiência?
"Quem a tem, se a todo o momento tudo se renova?"
tudo na vida é uma experiência...

sexta-feira, 2 de abril de 2021

A mão que balança a jarra

Se você coletar 100 formigas pretas e 100 formigas de fogo e colocá-las em uma jarra de vidro, nada acontecerá.
Mas se você pegar a jarra, agitá-la violentamente e deixá-la sobre a mesa, as formigas começarão a se matar.
As vermelhas acreditam que as pretas são as inimigas, enquanto as pretas acreditam que as vermelhas são as inimigas, quando o verdadeiro inimigo é a pessoa que sacudiu a jarra.
O mesmo é verdade na sociedade.
Homens vs Mulheres
Negros vs Brancos
Fé vs Ciência
Jovem vs Velho
Etc ...
Antes de lutarmos uns contra os outros, devemos nos perguntar:
Quem balançou a jarra?

O que vale realmente a pena

Somos frágeis.  Poeira à espera do sopro do vento.  Não temos tempo a perder.  Cada dia que a gente desperdiça é um sol que foi embora sem r...