segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Do abstrato ao concreto

Paz: artigo de Luxo🌿
Martha Medeiros

"...E quando não dá certo, não dá, e quando erra, paciência, e quando acerta, oba, e quando está cansado, se recolhe, e quando está triste, chora, e quando está alegre, vibra, e quando enxerga longe, vai em frente, e quando a visão embaça, freia, e quando está sozinho, chama, e quando quer continuar sozinho, não chama. Primeiro passo para a paz: reconciliar-se consigo próprio. É o que a gente pode fazer de mais concreto, por mais abstrato que pareça."

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Felicidade


Os professores trouxeram balões para uma escola.
Um foi dado um a cada aluno, que teve que inflá-lo, escrever seu nome nele e jogá-lo no corredor.
Os professores então misturaram todos os balões.
Os alunos tiveram 5 minutos para encontrar seu próprio balão. Apesar de uma busca frenética, ninguém encontrou o balão.
Nesse momento, os professores orientaram os alunos a pegar o primeiro balão que encontrassem e entregá-lo à pessoa cujo nome estava escrito nele.
Em 5 minutos, todos tinham seu próprio balão.
Os professores disseram aos alunos:
′ ′ Esses balões são como a felicidade. Nunca a encontraremos se todos estiverem procurando a sua própria. Mas se nos preocuparmos com a felicidade de outras pessoas ... nós vamos encontrar a nossa também. "
Não tenhas medo de dar AMOR .

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Cansadas

Esse é o tempo das mulheres cansadas.
Mas não me entenda mal, não enfraquecidas pelo desânimo,
Não tombadas pela apatia,
Nem perdedoras nem perdidas.
Cansadas.
Cansadas das mentiras alçadas como verdades absolutas constituindo o que somos.
Cansadas das cargas impostas como dons, talentos e virtudes obrigatórias das quais ainda devemos nos orgulhar!
Cansadas.
Cansadas de arrastar toda responsabilidade histórica para com o sucesso ou insucesso das instituições basilares ~falidas~ da sociedade.
Se toque,
É dessa culpa, que as mulheres desta curva do tempo estão fartas!
Cansadas!
Não, a minha fé não há de sustentar toda miséria humana não...
Chega.
Não, a guerreira aqui está baixando as portas...
Porque definitivamente, chega.
Chega de ridicularizar a nossa inteligência.
O nome disso é opressão, é exploração.
Cansada, cansada de jornada dupla, tripla, quádrupla...
Cansada de agradar todo mundo, porque é lógico que esse desequilíbrio não merece contestação mas sim louvor!
"Nossa, ela é uma batalhadora não é?"
"Uau, que empoderador!"
"Mulher Maravilha!"
"Rainha do Lar..."
"Mulher Virtuosa, quem a achará?"
Chega.
Esse desequilíbrio de papéis de gênero criou um monstro...
E ele se chama "a mulher cansada".
Que não vai deixar pedra sobre pedra, preste atenção, porque esse endeusamento da mulher é de araque...
Não é pra nós boba, é pra mídia te vender.
É pra sustentar o sistema político e econômico que nos escraviza,
É pra todo mundo, menos pra você.
Cansada...
Mas não morta. Cansada pra continuar sendo sugada ~e agora chamada de empoderada~
Cansada pra continuar aceitando tudo isso e um pouco mais...
Calada.
Honrada!
Brutalizada...
Mas viva e forte o bastante pra lutar, pra botar tudo e todos no devido lugar - o do equilíbrio, da equidade de gênero.
Viva e forte o bastante pra acumular mais uma função...
A da luta.
Pois como sempre, tudo  pra nós é desigual.
Luta, ferrenha, pra se livrar da inglória posição de salvadora...
Luta pra se livrar da coroa de espinhos...
Ornando nossa cabeça cansada.
Cansada,
Porque se tem uma coisa que a gente não precisa mais,
Mesmo,
É ainda ter que carregar o peso do rótulo de abestada.
Gi Stadnicki 📷

Intensidade

"Sou composta por urgências: 
minhas alegrias são intensas; 
minhas tristezas, absolutas. 
Entupo-me de ausências,
Esvazio-me de excessos. 
Eu não caibo no estreito, 
eu só vivo nos extremos.

Pouco não me serve, 
médio não me satisfaz,
metades nunca foram meu forte! 

Todos os grandes e pequenos momentos,
feitos com amor e com carinho,
são pra mim recordações eternas.
Palavras até me conquistam temporariamente...
Mas atitudes me perdem ou me ganham para sempre.

Suponho que me entender 
não é uma questão de inteligência 
e sim de sentir, 
de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca." 

(Clarice Lispector)

Busca


Talvez você esteja buscando nos galhos o que só encontramos nas raízes. 

Rumi

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

DOR


️  Dor Física e Dor Emocional 

O maior medo do ser humano, depois do medo da morte, é o medo da dor. Dor física: um corte, uma picada, uma ardência, uma distenção, uma fratura, uma cárie. Dor que só cessa com analgésico, no caso de ser uma dor comum, ou com morfina, quando é uma dor insuportável. Mas é a dor emocional a mais temível, porque essa não tem medicamento que dê jeito.
Uma vez, conversando com uma amiga, ficamos nessa discussão por horas: o que é mais dolorido, ter o braço quebrado ou o coração? Uma pessoa que foi rejeitada pelo seu amor sofre menos ou mais do que quem levou 20 pontos no supercílio? Dores absolutamente diferentes. Eu acho que dói mais a dor emocional, aquela que sangra por dentro. Qualquer mãe preferiria ter úlcera para o resto da vida do que conviver com o vazio causado pela morte de um filho.
As estatísticas não mentem: é mais fácil ser atingida por uma depressão do que por uma bala perdida. Existe médico para baixo astral? Psicanalistas. E remédio? Anti-depressivos. Funcionam? Funcionam, mas não com a rapidez de uma injeção, não com a eficiência de uma cirurgia. Certas feridas não ficam à mostra. Acabar com a dor da baixa-estima é bem mais demorado do que acabar com uma dor localizada.
Parece absurdo que alguém possa sofrer num dia de céu azul, na beira do mar, numa festa, num bar. Parece exagero dizer que alguém que leve uma pancada na cabeça sofrerá menos do que alguém que for demitido. Onde está o hematoma causado pelo desemprego, onde está a cicatriz da fome, onde está o gesso imobilizando a dor de um preconceito? Custamos a respeitar as dores invisíveis, para as quais não existem prontos-socorros. Não adianta assoprar que não passa.
Tenho um respeito tremendo por quem sofre em silêncio, principalmente pelos que sofrem por amor. Perder a companhia de quem se ama pode ser uma mutilação tão séria quanto a sofrida por Lars Grael, só que os outros não enxergam a parte que nos falta, e por isso tendem a menosprezar nosso martírio. O próprio iatista terá sua dor emocional prolongada por algum tempo, diante da nova realidade que enfrenta. Nenhuma fisgada se compara à dor de um destino alterado para sempre.

Demonstrações

Jeitos de amar

No livro Prosa Reunida, de Adélia Prado, encontrei uma frase singela e verdadeira ao extremo. Uma personagem põe-se a lembrar da mãe, que era danada de braba, mas esmerava-se na hora de fazer dois molhos de cachinhos no cabelo da filha, para que ela fosse bonita pra escola. “Meu Deus, quanto jeito que tem de ter amor”.É comovente porque é algo que a gente esquece: milhões de pequenos gestos são maneiras de amar. Beijos e abraços são provas mais eloqüentes, exigem retribuição física, são facilidades do corpo. Porém há diversos outras demonstrações mais sutis.

Mexer no cabelo, pentear os cabelos, tal como aquela mãe e aquela filha, tal como namorados fazem, tal como tanta gente faz: cafunés. Amigas colorindo o cabelo da outra, cortando franjas, puxando rabos de cavalo, rindo soltas. Quanto jeito que há de amar.

Flores colhidas na calçada, flores compradas, flores feitas de papel, desenhadas, entregues em datas nada especiais: “lembrei de você”. É este o único e melhor motivo para azaléias, margaridas, violetinhas. Quanto jeito que há de amar.

Um telefonema pra saber da saúde, uma oferta de carona, um elogio, um livro emprestado, uma carta respondida, repartir o que se tem, cuidados para não magoar, dizer a verdade quando ela é salutar, e mentir, sim, com carinho, se for para evitar feridas e dores desnecessárias. Quanto jeito que há de amar.

Uma foto mantida ao alcance dos olhos, uma lembrança bem guardada, fazer o prato predileto de alguém e botar uma mesa bonita, levar o cachorro pra passear, chamar pra ver a lua, dar banho em quem não consegue fazê-lo só, ouvir os velhos, ouvir as crianças, ouvir os amigos, ouvir os parentes, ouvir. Quanto jeito que há de amar.

Rezar por alguém, vestir roupa nova pra homenagear, trocar curativos, tirar pra dançar, não espalhar segredos, puxar o cobertor caído, cobrir, visitar doentes, velar, sugerir cidades, discos, brinquedos, brincar: quanto jeito que há.

Martha Medeiros

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Crença

Respeite mais, julgue menos! 
Perdoe mais, condene menos!
Abrace mais, empurre menos! 
Faça mais, fale menos! 
E se o assunto for religião,
seja razão, seja sua razão. 
Mas também seja coração,
aliás, seja plural, seja corações 
de todas as crenças,
de todas cores,
de todas as fés,
de todos os povos,
de todas as nações!
Não transforme sua fé 
em uma cerca de arames cortantes!
Use ela pra se transformar
em alguém melhor que antes.
Em alguém melhor que ontem! 
Se transforme, transforme alguém,
afinal, do que vale uma prece
se você não vai além? 
Se você não praticar o bem!
Pratique o bem
sem olhar a quem! 
Sem se preocupar com a crença de ninguém! 
Pois acredite, Deus não tem religião também!
Deus é o próprio bem! 
Deixe Deus, ser o Deus de cada um!
Deixe cada um ter o Deus que quiser ter!
Seja você! E deixe o outro ser
o que ele quiser ser! 
Seja menos preconceito! 
Seja mais amor no peito!
Seja amor, seja muito amor.
E se mesmo assim for difícil ser
não precisa ser perfeito.
Se não der pra ser amor
seja pelo menos RESPEITO!
--------Bráulio Bessa--------

Envelhecer



E assim chegamos à envelhecência, com nossa alma recheada pelas experiências vividas, os olhos brilhantes ao contemplar e reconhecer a beleza da vida, inobstante os momentos terríveis e nada fáceis que tenhamos passado. Sejamos gratos. Muitos não encontram a possibilidade de vivenciar nem as alegrias, nem as tristezas, pois partem cedo demais daqui.                                    ANTES, 
ELA ERA BONITA ... mas ela não sabia o que isso significava.

Quando ela era uma menininha, lhe disseram que ela era linda, mas não tinha significado em seu mundo de bicicletas e tranças e aventuras de faz-de-conta.

Mais tarde, ela desejava ser linda, quando os meninos começaram a notar suas amigas e os telefones tocaram para encontros de sábado à noite.

Ela se sentiu linda no dia do casamento, esperançosa com seu novo parceiro de vida ao seu lado. Mais tarde, quando os filhos dela disseram que ela era linda, ela estava frequentemente exausta, seu cabelo bagunçadamente amarrado pra trás, sem maquiagem, larga na cintura, onde costumava ser fina; ela simplesmente não conseguia entender.

Ao longo dos anos, enquanto ela tentava, aos trancos e barrancos ficar bonita, ela encontrou outras prioridades, como as contas e as refeições, enquanto ela e seu parceiro trabalhavam duro para fazer uma familia, para dar conta às despesas, para transformar crianças em adultos, para fazer uma vida.
Agora, ela senta...
Sozinha.

Seus filhos cresceram. Seu parceiro voou e ela não consegue se lembrar a última vez em que ela foi chamada de linda.

Mas ela estava linda, em cada linha de seu rosto, na força de suas mãos artríticas, na amplitude que tinha um milhão de abraços impressos em sua própria pele,
e em suas coxas inconstantes e tornozelos grossos, que tinham feito sua corrida por ela.

Ela viveu sua vida com um amoroso e generoso coração, tinha colocado seus braços em torno de tantos para dar-lhes conforto e paz.

Seus ouvidos tinham ouvido tanto notícias terríveis, como lindas canções e de seus olhos tinham transbordado tantas lágrimas, que estavam eles agora brilhantes, mesmo quando escureceram.

Ela tinha vivido e era...
E porque ela era, se tornou bonita.

~ Suzanne Reynolds ~


quinta-feira, 19 de novembro de 2020

As partes

...Parte de mim é a criança que me habita, a outra parte, a mulher que a criança desejou ser. 
Moram na mesma casa, ocupam o mesmo coração... 
Quando a mulher tem que ser forte, a criança adormece...
Quando a criança acorda, a mulher tem na lembrança... os sonhos de criança...

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Fortes e Verticais

Acostumemo-nos a dar antes de pedir.

Evitemos julgar os demais à luz de nosso ainda nascente discernimento, abundantemente deformado por nossas paixões. Sejamos fortes e verticais.

No mundo já há mendigos demais... Não sejamos um deles.

Não me refiro tão somente ao plano econômico, mas sim ao global. Ofereçamos as mãos cheias! Nossa energia, nossa bondade e boa vontade para todos. Trabalhemos muito. Estudemos, pensemos e oremos o necessário..., mas, acima de todas essas coisas, rompamos nossos modelos de egocentrismo, com Humildade de Coração, que não é do corpo e dos trapos. Sejamos corteses... Façamos realmente e todos os dias, um mundo novo e melhor... E vivamos nele."

Jorge Angel Livraga

terça-feira, 10 de novembro de 2020

AMO

Amo dormir com você.
Acordar ao teu lado.
Amo comer com você.
Cozinhar com você.
Ajeitar a casa juntos.
Te auxiliar na fábrica.
Amo te ouvir falando , amo tua voz...
Amo sua risada , teu sorriso.
Seu jeito carinhoso de me olhar ,
Teus carinhos , teus afetos...
Amo cuidar de você,
te fazer massagens e cafuné,
Ficar de xodó contigo.
Amo teu cheiro , teu abraço gostoso,
Dormir de conchinha
ou com as pernas enlaçadas uma na outra.
Amo andar de mãos dadas( pra qualquer lugar) , subir juntos os 3 andares até o 304.
Amo tomar vinho contigo , nossos latões e long neck's ou nossa garrafinha de água (gelada ou quente) depois do amor.
Amo ser aquecida por teus braços ou quando  transpiramos juntos .
Amo cochilar no teu peito e babar no teu ombro (rsrs).
Amo nossas pequenas rotinas como tomar banho juntos , escovar os dentes juntos , prepararmos nosso café juntos ( o teu è sempre melhor).
Amo receber suas mensagens de bom dia ou Boa noite , mas amo ainda mais quando são ditas a centímetros da minha boca e olhando nos meus olhos ...
Amo quando me chama de "meu amor", me sinto ainda mais SUA .
Amo tudo...
E Amo muito...
E cada dia mais .

Clivia Fonseca
Reflexiva e apaixonada ❤

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

APAIXONE-SE POR SI DURANTE A RELAÇÃO


Fabrício Carpinejar 

Ao se apaixonar, você deve se apaixonar por si. Ambas as paixões devem acontecer ao mesmo tempo, sob pena de viver unicamente para agradar. 

Sem o próprio enamoramento, conversar será negociar, discordar será discutir, estar junto será suportar a atenção falhada. 

Haverá trabalho em dobro para se mostrar presente, para ouvir e ser ouvido, para entender e ser entendido. Perderá o patrimônio da naturalidade, da leveza e da liberdade de uma relação saudável, em que você também se reencontra no encontro. 

O que mais se vê é gente se adiando para corresponder às expectativas, colocando-se em segundo plano, acreditando que o relacionamento é feito de renúncias e privações. 

O que mais se vê é gente se oferecendo para  cuidar e se descuidando, tomando para si os méritos alheios, entrando em simbiose, confundindo as individualidades na dependência, achando que as vitórias de seu par são seus triunfos e servem para compensar o fato não fazer nada para o seu benefício. 

O que mais se vê é gente que não gosta de quem se tornou e não percebe o quanto é grave amar menos quem se é para amar mais o seu parceiro ou a sua parceira.

O que mais se vê é gente se apaixonando por si depois da separação, com o zíper fechado das malas e das palavras. Daí finalmente resgata a sua vontade de cuidar do corpo, dos amigos e de seus prazeres pessoais. Só se empenha em se valorizar com a ruptura do namoro ou do casamento. 

Por que não antes? Talvez esse seja exatamente o motivo da maior parte dos términos: não a ausência do amor a alguém, mas a falta de amor-próprio.

Cólera

💔  "Amanheci em cólera. 
Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece..."

[A Descoberta do Mundo].

   __Clarice Lispector 🖋️

Alma de gato

"Nasci com alma de gato! Adoro meu cantinho. Meu afeto é de graça, não faço nada pra ganhar audiência. Às vezes quero mesmo ficar na minha; e, não, não aconteceu nada. 
Amo a noite e a lua. Sou curiosa demais, por isso, muitas vezes bato o focinho em portas e corações fechados. Acredito que espreguiçar é uma arte. 
O barulho me incomoda; a boa música me encanta. Amo aqueles que me respeitam; respeito aqueles que amo. Adoro uma baguncinha. 
Quando o carinho é bom, fecho os olhos pra aproveitar. Quando a companhia é boa; abro o coração pra acompanhar. Tenho mesmo alma de gato; minha liberdade é um valioso bem. 
Tenho sete vidas, com certeza. E, com certeza já gastei algumas. E, aprendi... a andar devagar, a relaxar diante de quem confio e a entender que quando a alma arrepia pode ser por prazer, mas pode ser por estar em perigo também....
 Ainda estou aprendendo a distinguir os dois."

Ana Macarini

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Lição pra uma vida ou muitas...


Aos 40 anos Franz Kafka (1883-1924) que nunca se casou e não tinha filhos, passeava pelo parque de Berlim quando conheceu uma menina chorando porque tinha perdido sua boneca favorita. Ela e Kafka procuraram a boneca sem sucesso.
Kafka disse-lhe para o encontrar lá no dia seguinte e eles voltariam à procura dela.
No dia seguinte, quando ainda não tinham encontrado a boneca, Kafka deu à menina uma carta "escrita" pela boneca que dizia: "Por favor, não chores. Fiz uma viagem para ver o mundo. Vou -te escrever sobre as minhas aventuras." Então começou uma história que continuou até ao fim da vida de Kafka.
Durante os seus encontros, Kafka leu as cartas da boneca cuidadosamente escritas com aventuras e conversas que a menina achava adoráveis.
Finalmente, Kafka trouxe-lhe a boneca (comprou uma) que tinha voltado a Berlim.
"não se parece nada com a minha boneca", disse a menina.
Kafka entregou-lhe outra carta em que a boneca escrevia: "as minhas viagens mudaram-me." A menina abraçou a nova boneca e trouxe toda feliz para casa.
Um ano depois, Kafka morreu.
Muitos anos depois, a menina adulta encontrou uma cartinha dentro da boneca. Na pequena carta, assinada por Kafka, estava escrito:
"Tudo o que você ama, provavelmente será perdido, mas no final o amor voltará de outra forma."

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Antes de ir embora



Se tem uma coisa que nunca tive medo é de ir embora.
Já fui embora muitas vezes, já me despedi de muitas coisas e muitas pessoas também.
Mas as despedidas mais dolorosas sempre foram de mim mesmo.

Doeu, quando deixei para trás a menina  inocente.
Foi assustador quando tive que dizer adeus ao adolescente sonhador para, abraçar a versão adulta, que pouco sabia e tanto queria.

Mas não parou por aí não, a cada novo ciclo, me reinvento, e continuo me despedindo de apegos, de crenças, vontades, de hábitos, e de tudo o que não edifica, não ensina, e não me acrescenta.

Antes de qualquer partida, existe sempre um momento em que você não pensa, não diz nada, e apenas sente.
Sente que certas pessoas, lugares, e situações não te representam, não te satisfazem, e não te fazem mais feliz.

De um jeito ou de outro, a gente sempre sente e sabe quando é hora de partir. Mesmo que inconscientemente. E o mais importante é nunca temer as despedidas, porque, para fazer espaço para o novo, temos que nos livrar do que é velho e não nos serve mais.

No dia que decidires recomeçar, recomeça alinhado no teu querer, com as tuas intenções simples e claras. Não basta só querer alguma coisa, é preciso que ajas em função desse querer. Não basta dizeres "eu gostava" é preciso sentires o "eu quero, eu posso, eu ajo" com força, garra e determinação.

No dia que decidires recomeçar alguns vão aplaudir, outros criticar e tantos outros invejar. E depois...

Esquece os que te que vão criticar, esquece os que te vão invejar, e todos os outros que revelam a sua importância naquilo que te fazem sentir, no que dizem sobre eles quando falam de ti. Esquece aqueles que todos os dias te mostram porque não podem fazer parte de ti.

Abraça os que te aplaudem porque esses querem-te bem. Abraça os que estão contigo no teu querer porque eles tal como tu, só te querem ver avançar. Abraça quem te faz crescer, liberta-te dos que te querem ver sofrer.

E se falhares neste teu recomeço, não te inquietes. Só não falha quem não recomeça e viver é arriscar, e sair do conforto do nada fazer.

Que não te impeça o medo do que os outros vão pensar. Que não te impeça aquilo que hoje não sabes nem vês. Ninguém sabe o que vem depois e só tu podes abraçar com garra e querer a Vida que queres viver.

Isto sim, é viver em LIBERDADE.

Ana Maria de Moraes

Ainda sobre a morte...

Kisagotami era uma viúva que tinha sofrido diversas reviravoltas na vida. Então, como último golpe, seu amado bebê morreu.

Ela estava inconsolável e não queria que o corpo fosse cremado. Um dos vizinhos da vila sugeriu que ela fosse ver o Buda.

Ela chegou ante ele com o cadáver ainda em seus braços. “Me dê algum medicamento especial para curar minha criança”, implorou.

O Buda então pensou um pouco. Depois disse: “Sim, posso te ajudar. Vá e me arranje três grãos de sementes de mostarda. Mas elas precisam ser de casas onde a morte nunca tenha ocorrido”.

Kisagotami encheu de esperança seu coração. Mas, assim que ia de porta em porta, ouvia uma história de perda após a outra. Naquela noite, quando voltou ao Buda, ela tinha aprendido que o luto não era sua tragédia pessoal, mas uma característica da condição humana, e aceitou o fato.

O que vale realmente a pena

Somos frágeis.  Poeira à espera do sopro do vento.  Não temos tempo a perder.  Cada dia que a gente desperdiça é um sol que foi embora sem r...